NO ATELIÊ COM RAFAEL BARON

Dando sequência à série de visitas aos ateliês dos nossos artistas representados, seguimos desta vez para o centro do Rio de Janeiro, mais precisamente para a Rua do Rosário, onde o artista Rafael Baron ocupa um desses típicos sobrados de traços coloniais marcantes que compõem o núcleo histórico da área.

Logo na chegada, somos surpreendidos por uma ruela estreita, cuja atmosfera é turvada por uma arquitetura sisuda, mas que se abre aos poucos para a claridade, desvelando no seu extremo oposto um pouco do céu azul e a fachada da charmosa Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, já na Rua do Ouvidor. Caminhar pelo centro, atualmente sem a mesma agitação dos tempos pré-pandêmicos, provoca emoções desconexas, um misto de melancolia e consternação com um tímido encantamento pelas novas perspectivas e possibilidades de observação que se descortinam ante ruas mais vazias e silenciosas.

Dentro do ateliê, no entanto, a sensação é mais ajustada, de acolhimento e entusiasmo – somos prontamente abduzidos para o universo sedutor dos personagens imaginados pelo artista, que de maneiras muito particulares, envolvem quem quer que se proponha a “desbravá-los”. Rafael Baron vive agora boa parte da sua vida ali, entre pincéis, tintas e chassis que vêm dando forma a figuras cheias de personalidade e expressão, mas também munidas de um mistério instigante. Da sua casa em Nova Iguaçu até o centro do Rio, o artista cruza a Avenida Brasil em um trajeto diário que dura em média 1 hora. Seja em trânsito ou no resguardo inventivo do ateliê, a resistente programação roqueira da Rádio Cidade, há pouco destituída de sua frequência no dial para ocupar exclusivamente o ambiente virtual, é a trilha sonora que o acompanha na rotina de criações.

Suas obras estão dispostas no térreo e no mezanino de um ambiente que outrora já existiu como galeria de arte; nessa nova configuração, minhas telas, minhas regras. Na entrada, uma delas ganha ares sublimes, como em um santuário: “Jeanne e Modi“, xodó do artista, foi posicionada estrategicamente, aproveitando-se da arquitetura do edifício. Outras preenchem uma área mais laboriosa, onde o artista está neste momento imerso no desenvolvimento de uma série inédita de pinturas em médio e grande formato que deve ocupar em breve o espaço “The Cabin”, em Los Angeles (EUA), local de sua primeira exposição individual fora do Brasil. Na parte superior, uma pequena linha do tempo se forma, com obras ajustadas de forma não arbitrária, mas que indicam a evolução de sua trajetória na pintura figurativa. Há também espaço para exercícios escultóricos, que apontam novos caminhos para a sua prática.

Confira na galeria a seguir alguns registros desta visita.

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Galeria de fotos

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Bio

RAFAEL BARON nasceu em 1986 em Nova Iguaçu (RJ), onde vive e trabalha. Graduado em Teologia, pela FAECAD, também é formado em Fotografia e Fotografia de Estúdio pelo SENAC – RJ. Estudou Desenho (com Sérgio Dias), Pintura (com Celso Mathias) e História da Arte (com Thiago Martins). Também frequentou cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV (RJ).

Na sua prática artística, Rafael desenvolve estudos e pesquisas sobre a pintura figurativa, com um olhar para a poética contemporânea. Seu trabalho parte da leitura da figura humana, por meio da qual detecta as subjetividades da personalidade de cada indivíduo, buscando características singulares no processo de criação de seus personagens. Nas suas telas, os fundos abstratos, as pinceladas expressivas e o uso de cores vivas impulsionam essas figuras para a frente, que ganham uma certa unidade, vigor e mistério com os borrões pretos dos olhos e os lábios vermelhos carnudos. Além disso, ao serem nomeadas pelo artista, cada figura parece externar a sua personalidade e sugerir uma história, provocando o imaginário do observador. Na sua pesquisa, aborda problemáticas do preconceito social, racismo, LGBTfobia, misoginia, etc. Defende a arte como uma poderosa ferramenta de comunicação, que possa contribuir para uma vivência social harmoniosa. Ao propor um diálogo aberto sobre a tolerância e a representatividade, o artista convida o espectador a uma coautoria com cada um de seus personagens. 

Em sua recente trajetória, Rafael Baron foi vencedor do concurso “Garimpo” (2019/2020), promovido pela revista Dasartes e voltado para artistas brasileiros em fase de consolidação de carreira e que nunca tenham tido uma individual em uma instituição de arte. Seus trabalhos já fazem parte de importantes coleções privadas no Brasil e no exterior, e também da coleção institucional do MAR – Museu de Arte do Rio.

Para mais informações, confira a página de perfil do artista por aqui.

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Seguindo os protocolos da OMS, esta visita respeitou as regras de uso de máscara e distanciamento social. 

©Portas Vilaseca Galeria.